sexta-feira, 25 de junho de 2010

Histórias de vida

 Joãozinho era um garoto de favela, como muitos que existem por aí. Ele não fazia o tipo sonhador; muito pelo contrário, era absurdamente realista quanto a sua perspectiva de vida. Afinal, todos de sua família, pai, tio, avô, primo, estiveram boa parte da vida ou estão em uma penitenciária do estado. E os que não estão atualmente, sabe-se, mera questão de tempo. Reza a lenda que alguns foram até concebidos na cadeia. Mas Joãzinho sabia que não queria isso da vida. Queria mais. Traçou, então, planos e objetivos para seu futuro.
Não era nenhum gênio, então precisou estudar arduamente para sair do primeiro grau e entrar em uma boa escola. Se formou técnico ao mesmo tempo que completou o segundo grau. Mas Joãozinho, agora João, sabia que isso não era o suficiente. Estudou então como nunca para passar no vestibular, e foi a coisa mais difícil que ele já fez. Fez mais cadeiras que seus colegas, se formou em biblioteconomia em tempo recorde. Com o canudo em mãos, agora ele podia finalmente partir para o que queria. Tudo em seu plano havia dado certo até então. Assim, com uma arminha de plástico, tentou assaltar o primeiro banco que encontrou, e esperou pacientemente a chegada da polícia. Confessou prontamente seu crime ao se entregar às autoridades, sendo condenado à prisão especial para curso superior.

Um comentário:

  1. -Final alternativo condizente com dias de hoje:
    Vivia então Joãozinho o ápice de sua vida, pois conseguiu o que seus pais nunca tiveram. Isso, é claro, até ser revogada a lei que garante prisão especial, e ele ser movido para celas comuns. Hoje, Joãozinho admite sentir falta de tudo o que tinha, mas diz que está bem, afinal de contas, está de volta à sua família.

    Acho que ficou muito humor negro, como não era intenção, tirei esse final. Queria mais fazer uma paródia a aquelas histórias de "vencedores" que tinham sonhos/visão, ou a de pessoas que perderam tudo. Fazia tempo que queria criar uma espécie de conto e postar aqui, mas essa foi a primeira idéia que grudou no cérebro tempo suficiente pra ser formulada e escrita.

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