Quando pequeno, meu pai disse algumas vezes, quando eu me servia demais e meu apetite acabava antes de terminar toda a comida: "Como é que tu deixa comida no prato? Não sabe que tem muita criança por aí que não tem nada pra comer?". Na hora eu já estava satisfeito, então o máximo que fazia era ficar cabisbaixo como um cão arrependido (com suas orelhas.....). Mas isso de certa forma me marcou, tanto que hoje eu sempre faço uma "forcinha" pra não deixar nada no prato.
Essas histórias, parábolas, fábulas, contos, que nos contavam quando crianças e moldaram algo do nosso caráter, hoje em dia vejo como muitas delas são meio furadas ou permitem outras interpretações mais "livres". Essa mesma das crianças famintas, por exemplo, seria muito fácil de rebater (embora se eu rebatesse naquela época ganharia uns tapas e castigo pela "esperteza"). O fato de eu comer tudo o que tem no prato não tem nada a ver com crianças passando fome. Pois comigo comendo, tem ainda menos comida no mundo e elas vão continuar com fome (virtualmente até aumentaria).
Uma das que eu acho mais cômicas é a de Narciso. Pra quem não se lembra, é aquele cara que, muito bonito, acabou morrendo pela sua vaidade. Ou pelo menos que eu lembre, contavam ela com essa moral. Por ser muito bonito, ele era sempre paparicado pelas pessoas. Um dia, indo beber água do rio, ele vê seu próprio reflexo e se apaixona por ele. Tenta conversar, pegar, acariciar, mas vendo que não havia como, tenta abraçar num ato desesperado, cai no lago e se afoga (dramático, não?). No fim, uma flor nasce onde ele estava, e essa flor ganha o nome de Narciso. Apresentando minha interpretação da moral da história: ser bonito demais é perigoso, especialmente se você for gay. Pode ser mortal.
Lembro vagamente de ler uma lista desses desvios de moral de histórias infantis, mas infelizmente foi há tanto tempo que não faço idéia onde foi, mas gostaria de ler de novo. Se alguém souber onde achar ou quiser dividir uma interpretação sua, comente.
"E quem quiser, que conte outra."
Interessante o título do texto. o.o''
ResponderExcluirAgora não me vêm nenhuma história... mas me lembrou uma música:
"Nana neném... que a Cuca vem pegar..." - Se ela tá vindo me pegar, eu não vou dormir! T_T
O mesmo comigo aqui, e sei que com certeza na minha vez vou fazer o mesmo com os rebentos. Em parte, apesar de traumatizar a criança, esse tipo de atitude também cria um senso de realidade e responsabilidade. Aquele senso que diz que não estamos sós no mundo e que há pessoas em condições melhores, iguais e piores que a nossa.
ResponderExcluirQuanto às estórias com desvio de moral, diz-se que estória da Chapeuzinho Vermelho, o Lobo era o mais santo dali.
"O Cravo brigou com a Rosa * (transou)
debaixo de uma sacada.
O Cravo saiu ferido * (cansado - amolecido)
e a Rosa despedaçada" * (desvirginada)
"Terezinha de Jesus
De uma queda foi ao chão * (a queda da vergonha)
Acudiram três cavalheiros
Todos os três de chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai, * (a primeira corte)
O segundo seu irmão, * (a segunda corte)
O terceiro foi aquele * (a terceira corte)
Que a Tereza deu a mão." * (Finalmente ela DEU)
Lembro de uma entrevista do digníssimo Tom Zé no programa do Jô Soares (Globo) em que ele comenta esse detalhe sobre a cantiga "O cravo e a Rosa" em que se simula o primeiro ato sexual.
o mesmo no caso da "Terezinha de Jesus", porém com influência de casos, ainda correntes no interior, de incesto.
No caso dessas cantigas, seriam formas de iniciação sexual, de se falar sobre o assunto para as crianças. Mas isso era nos tempos idos, quando ir na pharmácia comprar camisa de vênus ainda era motivo de timidez.
Hoje temos a Professora do Funk.
Quem se lembra de quando os 'cantores' do "É o Tchan!" disseram que sua música era "sem maldade, para o público infantil".
C'est la vie - E assim caminha a humanidade.
e a tal de Dona Chica q tentou matar o gato? complicado tb...
ResponderExcluirboa sorte com o blog o.o/
(te achei pelo analytics... li o primeiro post e percebi qm q escreveu essas "bizarrices" XD)
Mas você tem razão. Desculpe, não pude evitar ^^
ResponderExcluirMas é verdade, você tem razão mesmo, no fim, estórias são maneiras de enfiar uma coisa na nossa cabeça, de uma forma ou de outra, é o que acontece.
Por sinal, já leu Sandman? Se não leu, leia. Não tem muito a ver com seu post, na verdade... Só acho que gostaria pelo jeito que escreve.
Não vou dizer que você vai chorar no final, mas com certeza vai achar o Morpheus um cara legal.
E vai amar a Morte. ^^
Eu não tive muitas dessas historias quando eu era criança.
No máximo, eu via ratimbum e o pequeno principe na cultura. Adorava, fato, mas nas estorias eu nem prestava atenção.
Aliás, pequeno principe tb tem uma moral parecida, da rosa que ele abandona e tudo mais. Nem deveria ser um livro pra crianças. O.o
Acho que é por isso que eu sou essa coisa estranha.
Mas vou indo ^^
E pra completar o fim do segundo comentário
"Com passos de formiga
E sem vontade..."